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Cultura material da gravidez: distinção, identidade e materialidade da mãe e do bebê.

[dropcap color=”” boxed=”yes” boxed_radius=”50%” class=”” id=””]C[/dropcap]om o objetivo de escrever um artigo, eu e Bianca Dramali, fizemos uma pesquisa com mulheres cariocas, de classe média alta, grávidas ou com filhos de até 2 anos. Através de entrevistas em profundidade, reconstruímos seu ritual de consumo durante a gravidez na tentativa de entender quais são as narrativas contidas na cultura material destas mulheres.
Descobrimos que a cultura material na gravidez é fundamental para a construção da identidade do bebê, para a reconfiguração da mulher que nesta etapa assume um novo papel social, na representação das vitórias e para a diferenciação desta mulher das outras.

 
Interessante notar como a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares e profundas. Ela se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, abordando um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. As pesquisas qualitativas têm caráter exploratório e estimulam os entrevistados a pensar e falar livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. Elas fazem emergir aspectos subjetivos, atingem motivações não explícitas, ou mesmo não conscientes, de forma espontânea.

 
Pode-se dizer que a entrevista de profundidade é definida como uma entrevista semi-estruturada, direta, pessoal, em que um respondente de cada vez é instado por um entrevistador altamente qualificado a revelar motivações, crenças, atitudes e sentimentos sobre determinado tópico Neste processo o entrevistador inicia com uma pergunta abrangente, e posteriormente incentiva o entrevistado a falar livremente sobre o tema, apresentando novas abordagens e novas questões a serem trabalhadas. A duração pode variar de 30 a 60 minutos, embora existam casos especiais que podem levar até mesmo horas, dada a natureza do problema, mas nunca pode durar menos que 30 minutos por conta da sua natureza aprofundada.

 
Outro aspecto importante da pesquisa qualitativa é a definição do número de casos a serem pesquisados. Ao contrário da quantitativa que tem uma amostra com erro amostral e nível de confiança, na qualitativa o número de entrevistas é definido através da saturação teórica. A saturação é uma ferramenta conceitual frequentemente empregada nos relatórios de investigações qualitativas em diferentes áreas. É usada para estabelecer ou fechar o tamanho final de casos investigados no estudo, interrompendo a captação de novos componentes. O fechamento amostral por saturação teórica é operacionalmente definido como a suspensão de inclusão de novos participantes quando os dados obtidos passam a apresentar, na avaliação do pesquisador, certa redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta de dados. Em outras palavras, as informações fornecidas pelos novos participantes da pesquisa pouco acrescentariam ao material já obtido, não mais contribuindo significativamente para o aperfeiçoamento da reflexão teórica fundamentada nos dados que estão sendo coletados.
As principais conclusões desta pesquisa foram que a partir de alguns dos autores que pesquisam a cultura material, e que nos serviram de arcabouço teórico para análise da gravidez na contemporaneidade a partir de sua materialidade, pessoas e coisas se relacionam de maneira intrínseca, fazendo interagir objetos e corpos, concedendo condições de existência do homem e apoiando a constituição de sua identidade.

 

“(…) um grande número de despesas que, segundo se diz, são ostensivas, nada têm a ver com um desperdício e, além de serem elementos indispensáveis de certo estilo de vida, são quase sempre – como a festa de noivado – uma excelente aplicação que permite acumular capital social”. (Bourdieu, 2008, p.351)

 

O que pode ser considerado excentricidade para alguns, pode ser essencial para afirmação de que se é uma boa mãe a depender do grupo social a que pertence. Elementos de distinção marcados através da cultura material da gravidez puderem ser verificados em diversas das falas de nossas informantes.
A maternidade é um ritual que impõe à mulher um novo papel social e o consumo, através da sua materialidade, é a ponte que transporta esta mulher para um novo grupo de referência. A materialidade transforma a mulher dentro deste grupo, construindo suas aproximações e marcando suas diferenças para que ela encontre sua nova identidade.
A maternidade na vida moderna ganha os contornos de um espetáculo, que se concretiza tanto na narrativa quanto em um consumo material bastante glamourizado, buscando construir elementos de distinção e de aproximação.
A cultura material é fundamental para a construção da identidade do bebê, para a reconfiguração da mulher que nesta etapa assume um novo papel social, na representação das vitórias e para a diferenciação desta mulher das outras.

 

A maternidade se transformou, portanto, em um momento marcado pela cultura do consumo e aquilo que era normal e corriqueiro passou a ser tratado com solenidade. A materialidade tornou-se a via pela qual o consumo acontece na maternidade.

 

Se vocês quiser saber mais sobre esta pesquisa, entre em contato com a gente.

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