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Pra entender melhor a importância do consumo e da cultura material em um momento crucial da vida das mulheres, Karine Karam e Bianca Dramali, realizaram uma pesquisa com mulheres cariocas, de classe média alta, grávidas ou com filhos de até 2 anos, reconstruindo, através de entrevistas em profundidade, seu ritual de consumo durante a gravidez.

 

Essa pesquisa teve como intuito entender quais são as narrativas contidas na cultura material dessas mulheres, e foi descoberto que, a cultura material na gravidez é fundamental para a construção da identidade do bebê, para a reconfiguração da mulher, que nesta etapa assume um novo papel social, na representação das vitórias e para a diferenciação desta mulher para as demais. Além disso, identificou-se que a partir da materialidade, pessoas e coisas se relacionam de maneira intrínseca, fazendo interagir objetos e corpos, concedendo condições de existência ao homem e apoiando a criação de sua identidade.

 

O que pode ser considerado excentricidade para alguns, pode ser essencial para afirmação de que se é ser uma boa mãe, a depender do grupo social a que pertence. Em diversas das falas de nossas informantes, elementos de distinção marcados através da cultura material da gravidez, puderem ser verificados.

 

“Fiz curso de gestante com aquela francesa, Stephanie. Adorei. Já ouviu falar? Ela é a supernanny brasileira. Você paga pela aula e ela vende produtos lá. Me senti muito mais segura ao fazer o curso”

Priscila, Barra, 32 anos, mãe de um menino de 1 ano

 

A maternidade é um ritual que impõe à mulher um novo papel social e o consumo, através da sua materialidade, é a ponte que transporta esta mulher para um novo grupo de referência. A materialidade transforma a mulher dentro deste grupo, construindo suas aproximações e marcando suas diferenças para que ela encontre sua nova identidade. Há uma narrativa de distinção quando afirmam:

 

“Nós aproveitamos para fazer a última viagem sem filho.”

Juliana, Jacarepaguá, 36 anos, mãe de um menino de 4 anos e grávida de outro de 5 meses

 

“….além disso, você traz roupas que ninguém tem, diferentes, exclusivas”

Jaqueline, Ipanema, 35 anos, mãe de uma menina de 2 e um menino de 9

 

“Não gosto de ter nada que todo mundo tem. Já imaginou a chupeta cair no chão da praça e ninguém saber de quem é porque são todas iguais?”

Mônica, Leblon, 30 anos, mãe de uma menina 6 meses

 

A maternidade na vida moderna ganha os contornos de um espetáculo, que se concretiza tanto na narrativa quanto em um consumo material bastante glamourizado, buscando construir elementos de distinção e de aproximação. Como podemos observar na narrativa abaixo:

 

O relógio digital do corredor da Maternidade São Francisco, em Niterói, marca 20h11m. Lucas nasce cabeludo, pesando 2,910 quilos e medindo 48 centímetros. Após ser examinado pelo pediatra e ter o cordão umbilical cortado pelo pai, é erguido pelo obstetra em direção a uma câmera instalada no teto da sala de parto.

 

Em outro andar, 20 pessoas acomodadas num auditório chamado Cine Parto observam, eufóricas, a rápida sequência de cenas ao vivo, numa TV de 52 polegadas. Quando avistam o bebê, levantam taças de champanhe e celebram o nascimento como se estivessem comemorando um gol. – Jornal O Globo

 

A cultura material é fundamental para a construção da identidade do bebê, para a reconfiguração da mulher que nesta etapa assume um novo papel social, na representação das vitórias e para a diferenciação desta mulher das outras.

 

A maternidade se transformou, portanto, em um momento marcado pela cultura do consumo e aquilo que era normal e corriqueiro passou a ser tratado com solenidade. A materialidade tornou-se a via pela qual o consumo acontece na maternidade.

 

 

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